Natália Nunes PDF Imprimir e-mail

 

 

Natália Nunes


Rómulo de Carvalho escreveu os seus primeiros versos aos cinco anos. Produziu duas quadras e um poema, com excelente construção formal. Tratam-se de produções premonitórias da sua futura e excepcional expressão literária, não só em prosa correcta, clara e elegante, como através da poesia.

A primeira quadra foi escrita a lápis, no verso de um triângulo de fechamento de um sobrescrito epistolar, porém, já continha a identificação de autoria “A 1ª quadra que eu fiz – 5 anos”.

 

            "Era uma vez um menino

            Que não era nada feio

            O que tinha de extraordinário

            Era um feitiço no meio."

 

A segunda quadra, tem como tema sua professora de instrução primária, Maria José Couto Machado, que estimava e respeitava.

Nesta quadra, como na primeira, também fez a utilização de comparação metafórica.

 

            "Maria é o primeiro nome

            e José logo a seguir

            O Couto é para acender

            e o Machado para partir."

 

Nesta quadra nota-se uma das características da pessoa Rómulo e do poeta António Gedeão, o pensador Rómico, que os conhecedores da sua obra poderão precisar em muitos dos seus poemas.

O seu primeiro poema, também aos cinco anos, Um casamento, composto de oito estrofes, mostra, mais uma vez, a notável capacidade de observação da vida com seus costumes, tradições e valores.

O estudo destas três primeiras composições da idade infantil de António Gedeão, dado o seu conhecimento vocabular, a apreensão da técnica de rima e do ritmo, da arte de versejar, bem como a dos valores sociais da época, vem mostrar-nos a precocidade de um talento que mais tarde se afirmará como vocação.

Escreveu ainda, composições poéticas entre os sete anos de idade (1913) e os doze anos (1918), estes com uma elevada crítica social aos valores, deveres, direitos e situação económica dos elementos componentes da sociedade da época.

O Acróstico Anacleta, dos onze anos, apresenta-se escrito pela mão do próprio, embora sem assinatura (o que acontece em alguns versos da maturidade, que não estão assinados, ou apenas assinou A ou AG, ou António), a tinta vermelha, excepto a primeira letra de cada verso que, para o devido realce visual, foram escritas a tinta negra.

Aos dez anos, o seu apreço pela literatura e história nacional é já muito profundo. Nessa idade já tinha lido Os Lusíadas, e então concebe um ambicioso e empolgante projecto, escrever a continuação desta obra.

Chega a escrever XII estrofes a partir do canto XI, um feito tão extraordinário para uma criança de dez anos, que o pai entendeu que as estrofes produzidas deveriam ser dadas ao público e assim elas foram publicadas no Notícias de Évora: Um novo Camões de dez anos.

Dos onze deixou também O Infante D. Henrique, e mais tarde aos dezasseis anos (1922) Castelo de Faria e aos 17 (1923) Joaneida.

Muitos poemas produzidos após a adolescência e a juventude, o autor declarou tê-los destruído, provavelmente por razões íntimas.

Em 1956 publica o primeiro livro de poemas da adultidade – Movimento Perpétuo.

Desta fase foi também publicado o poema Molécula Sonâmbula.

Além da poesia, tentou, igualmente, ainda na infância a comunicação pela narrativa em prosa através de dois romances: Um Romance e Amor Impossível.

Da juventude sabemos da existência de três novelas, dos 21 aos 23 anos, A Primeira Paixão de Isidro, História Triste e Bárbara Ruiva já aos trinta e seis anos, mas que foram eliminadas pelo autor. Resta-nos, no entanto O caso do Caldas (de 1992), uma narrativa bem construída que exibe conhecimentos científico-filosóficos da época.

Da juventude restaram também alguns escritos de carácter humorístico, duas em verso rimado, que tem como tema assuntos científicos e outra Os Três Mosqueteiros de carácter nitidamente paródico.

Escreveu, para o teatro, aos 23 anos em colaboração com seu amigo, Carlos Bana Quod Est, Est. Tenho a honra de pedir a Mão de Violante, levada a cena pela 1ª vez no Teatro de São Carlos, de Lisboa, em 19/07/1927, onde mais uma vez é relevante a sua crítica moral à sociedade da época.

Outra peça teatral intitulada RTX 78/24, publicada em 1967 (1ª edição), também continha uma visível crítica social e foi levada à cena em vários Teatros na província e até no Brasil.

Acerca da sua obra poética da maturidade, publicou aos 50 anos o livro Movimento Perpétuo, sob o pseudónimo de António Gedeão.

Depois de 1956, os seus livros foram-se sucedendo e recebendo sempre aplausos de crítica e do público em geral.

Ainda na idade adulta, publicou novelas como A Poltrona e Outros Contos, sendo a primeira em grande parte, autobiográfica.