Críticas a Rómulo e António PDF Imprimir e-mail

Romulo de Carvalho


"O efeito de choque que a poesia de António Gedeão produziu quando da sua estreia derivava em grande parte da sua interpretação da física, da química e da bilogia do mundo, associada a uma reflexão filosófica, patente em muitos dos seus títulos e a que não eram estranhos um certo humorismo suave e uma clara esperança, oferecida como estímulo , como ânsia de transfomação e também como lenitivo, esperança que mais tarde ele nos dirá ter sido então «necessária» (era o tempo do fascismo e da escrita como missão).
Tanto a arte como a descoberta científica e o trabalho humano fixam a sua atenção e lhe merecem aplauso. Antes de José Saramago ter escrito as suas páginas de homenagem aos trabalhadores que ergueram pedra a pedra o mosteiro de Mafra, no Memorial do Convento, já António Gedeão nos dera o Poema da Pedra Lioz, mencionando logo de entrada os nomes de « Álvaro Góis / Rui Mamede / filhos de António Brandão / naturais de Cantanhede; / pedreiros de profissão, / de sombriascataduras.» Nestes versos se projectam o talento e o esforço desses artesãos quase anónimos, lavrando o calcário sob a abóbada românica. Cântico ao trabalho de onde a beleza vai brotar e projectar-se no tempo, nesse tempo para além da morte que iguala os nobres e os plebeus...."

 


Urbano Tavares Rodrigues
"Decifrados do mundo, Alquimista do sonho", in Jornal de Letras, Lisboa, 26 de Fevereiro, 1997