António Gedeão: decifrador do mundo, alquimista do sonho |
| Urbano Tavares Rodrigues |
Do Homem com maiúscula, intelectual bifronte que é Rómulo de Carvalho/António Gedeão, podemos dizer sem exagero que ele representa, nesta segunda metade do século XX, a ânsia de saber e o antropocentrismo do século XVI, a sua multidisciplinaridade projectados numa era de incessantes e vertiginosas descobertas científicas, que infelizmente não coincidem com o aperfeiçoamento moral e cívico da nossa espécie.
Em Rómulo de Carvalho, no meu tempo do liceu Camões, por volta de 1940, o professor de físico-químicas mais respeitado e amado desse estabelecimento de ensino. Pedagofo excepcional, polígrafo com o gosto da pesquisa e o talento da divulgação, ninguém então poderia adivinhar que ele viria a ser o poeta António Gedeão, cantor sereno e hiperlúcido, e ao mesmo tempo comovido, das relações tão profundas da ciência e da arte e da solidariedade humana, isto é, dos diversos modos, complementares, de aprender a vida e o universo. |
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Apontamentos para um estudo da assinatura do poeta António Gedeão |
| Natália Nunes |
A assinatura que António Gedeão apunha nas dedicatórias dos livros que oferecia, surgia a muitos como qualquer coisa de muito diferente das assinaturas correntes, de tipo mais ou menos caligráfico, qualquer que fosse o tipo de letra, mais direita, mais inclinada, mais aberta, mais fechada, etc. Numa entrevista dada à revista Flama, n.º 1048, ano XXIV, de 5 de Abril de 1968, disseram os dois jornalistas entrevistadores: «Apresentámo-nos e pedimos um autógrafo no livro que levávamos. Curvou-se e assinou, desenhando cuidadosamente em vários círculos concêntricos as maiúsculas do seu nome». |
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O professor é o método, o processo, a forma e o modo |
| Nuno Crato |
Rómulo de Carvalho foi uma personalidade tão multifacetada, tão interveniente e tão produtiva que os estudos e comentários sobre a sua vida se têm desdobrado em vertentes muito diversas. Aprecia-se, estuda-se e discute-se a sua poesia, fala-se das suas investigações históricas, lêem-se e relêem-se os seus livros de divulgação, publicam-se as suas fotografias. Fala-se, finalmente, da sua docência e destaca-se o seu extraordinário exemplo de professor. Os seus antigos alunos, que são muitos, e alguns em posições destacadas na vida científica e cultural portuguesa, lembram elogiosamente o seu magistério. Curiosamente, no entanto, é nesta última vertente que Rómulo de Carvalho é menos lido. Os seus textos pedagógicos, que foram ocasionais e se encontram dispersos em publicações antigas e de difusão algo limitada, raramente são relidos e apreciados. Mas Rómulo de Carvalho foi um mestre de professores. Um mestre pelo exemplo e também pelo pensamento. |
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Rómulo de Carvalho, historiador da educação |
| Rogério Fernandes |
Licenciado em Ciências Físico-Químicas, professor do ensino liceal e mais tarde metodólogo do mesmo grau de ensino, além de poeta sob o pseudónimo de António Gedeão, Rómulo de Carvalho foi uma das personalidades mais notáveis no campo da cultura portuguesa. A sua obra como historiador da Ciência e historiador da Educação em Portugal é talvez a mais importante de quantas se produziram no nosso país. Como transitou Rómulo de Carvalho do ensino de uma disciplina experimental para a prática das ciências historiográficas? Tal é a interrogação que nos acode perante a diversidade de linhas de acção que manteve ao longo da vida. Rómulo de Carvalho antecipa-se à nossa pergunta, esclarecendo nas páginas iniciais da História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa (Coimbra, Atlântida-Livraria Editora, 1959), os motivos e circunstâncias desse trânsito que já abrangia a publicação de alguns dos seus melhores trabalhos: A pretensa descoberta da lei das acções magnéticas, por Dalla Bella, em 1781, na Universidade de Coimbra, 1954; Portugal nas «Philosophical Transactions», nos séculos XVII e XVIII, 1956 e Joaquim José dos Reis, construtor das máquinas de Física do Museu Pombalino da Universidade de Coimbra, 1958. Se é certo que este tipo de actividade se enquadrava no domínio da História da Ciência, não é menos certo que a sua condição de professor de Física e a sua tendência para «interrogar as raízes da História», o inclinavam para a pesquisa das origens e progressos do ensino daquela ciência no nosso país. |
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A literatura infanto-juvenil de Rómulo de Carvalho |
| Luísa Ducla Soares |
A dualidade Rómulo de Carvalho | António Gedeão também se manifesta na obra dedicada à infância e juventude, embora a vertente de cientista se sobreponha à de poeta e apenas uma pequena peça em verso seja assinada com o pseudónimo literário.
Professor, metodólogo, autor de compêndios dedicados à Física, à Química eàs Ciências Naturais, pedagogo emérito, não admira que o escritor pretendesse transpor para fora do âmbito meramente escolar a divulgação de temas relacionados com a ciência e a tecnologia, que tão bem dominava e para ele constituíam uma rigorosa paixão. A tradição deste género literário entre nós iniciara-se na primeira década do século XX, com a publicação de Histórias de animais, sua vida, costumes, anedoctas, fábulas, etc.– Noções amenas de zoologia para crianças de autoria de José Quintino Travassos (1909). Virgínia de Castro e Almeida, mais conhecida por outros títulos que lhe granjearam um lugar de destaque, deu a lume, pouco depois, Pela Terra e pelo Ar, Noções de Entomologia (1911) e, dois anos mais tarde, As Lições do André (Noções de Ciências). |
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Por uma linha recta mais suposta que o areal e o mar |
| Maria Teresa Arsénio Nunes |
Um dos aspectos que mais marcam a poesia de António Gedeão é aquela espécie de serenidade primordial que a cada verso alisa as arestas do tempo. Que uma lisura a identifica.
António Gedeão escrevia como quem vai fazendo o diário compassado de uma perplexidade elementar, ou como quem tacteia o mundo e o interroga: "Entre mim e a Evidência paira uma névoa cinzenta. Uma forma de inocência, Que apoquenta. […………………………]"
Talvez sejam aqueles que mais respeitam a inefabilidade da vida os que mais necessidade sentem de lhe proferir um rigor, e poetas seriam os que persistem nesse ostinato rigore de perante ela se inclinarem. Como quem se lhe afeiçoa.
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