A Física no dia-a-dia |
Relógio de Água, Lisboa, 1996, com prefácio de José Mariano Gago (reedição de "Física para o Povo", 2 vols., Atlântida, Coimbra, 1968) "Conjunto de prosas extremamente didácticas, feitas a pensar directamente no cidadão comum, a quem o autor trata carinhosamente por "meu caro amigo". Infelizmente, esses textos não são ainda suficientemente conhecidos, nem mesmo na comunidade dos professores de Física e Química. Merecem sê-lo mais. É extremamente claro e elucidativo o modo como o autor, a propósito dos mais variados objectos e fenómenos do quotidiano, mostra como a Física está omnipresente à nossa volta. A Física não é uma ciência exótica mas a ciência que procura descrever e explicar o mundo em que vivemos. Para isso é forçado recorrer a experiências. Vejamos o modo coloquial como uma experiência simples, relacionada com a lei de impulsão de Arquimedes, é descrita no segundo volume: "Faça assim. Comece por deitar pouca água no frasco, rolhe-o e ponha-o na água da panela. Tire-o daí, e deite-lhe um pouco mais de água, mas só algumas gotas. Experimente a ver se flutua. Flutua? Deite-lhe mais umas gotas. Foi para o fundo? Tire-lhe um pouco de água. É só uma questão de paciência e de cuidado, como disse. Basta uma gota de água para estragar tudo. (…) Ora aqui tem um submarino. O que o meu amigo fez foi um submarino." Da experiência de cozinha passou-se rapidamente para e, sem se dar por isso, para uma aplicação prática. Da ciência passou-se para a tecnologia. Mais adiante, no mesmo segundo volume, e a propósito de um brinquedo de soprar, popularmente designado por "língua-de-sogra", Carvalho chama divertidamente a atenção para a necessidade de sustentar todas as afirmações com o saber que só a experiência pode dar. "Parece mesmo uma língua, e como é comprida, lembraram-se de lhe chamar 'língua-de-sogra'. Não sei se a língua das sogras é mais comprida do que a das outras pessoas. Experimente o meu amigo medir uma para ver se é verdade". Feynman, a quem se conhece um humor muito peculiar, não diria melhor do que este nosso autor, a quem o confinamento à língua portuguesa impediu o atempado reconhecimento internacional."
In artigo "Os meus livros favoritos de Rómulo de Carvalho", págs. 15 a 17, Gazeta de Física, vol. 20, fasc. 1, Janeiro/Março, 1997 |
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